“Certamente temos que pagar as nossas dívidas.”
Esta afirmação é tão poderosa que não é apenas uma declaração económica: é uma afirmação moral. Afinal, não é através do pagamento de dívidas que supostamente a moralidade é baseada? Dar às pessoas o que lhes é devido. Cumprir as obrigações para com os outros, tal como seria de se esperar que eles cumpram as suas respectivas obrigações para conosco. O que poderia ser um exemplo mais óbvio de fugir às responsabilidades do que se recusar a pagar uma dívida?
Este era o tipo de raciocínio que poderia fazer coisas terríveis parecerem totalmente triviais.
David Graeber[1]
Dívida, s. f.
1. Coisa que se deve.
2. Dinheiro devido.
3. [Figurado]Dever
4. Ofensa.
5. Pecado.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
Sobre aquilo que é (juízos de facto) debruçam-se as várias ciências empíricas que estudam o mundo físico; sobre aquilo que deve ser (juízos de valor) debruça-se a ética. Assim, a questão “A dívidadeve ser paga “a todo o custo?” remete para o domínio da ética. E, dentro desta, para um problema específico da máxima relevância e, frequentemente, da máxima dificuldade: o problema da responsabilidade.
Numa dívida, como em muitos outros contextos do agir humano, coloca-se, então, a questão de saber quem é o responsável pela ação. Neste caso em particular trata-se de saber quem deve ser responsabilizado pela dívida: o devedor?, o credor?, ou ambos?