Lembram-se de Vítor Gaspar ter dito, no rescaldo da Sexta Avaliação da troika, que era preciso «decidir qual o modelo de Estado que queremos e como o podemos financiar de forma sustentada»? Para de seguida Abebe Selassie sentenciar que «cabe à sociedade portuguesa decidir que nível de protecção social deseja ter, que nível de impostos e qual o equilíbrio entre estas duas dimensões»?
Foi em Novembro de 2012 e a ideia era, basicamente, a de acenar com a promessa de descida de impostos, uma vez aceite - como condição - proceder a um «ajustamento» do Estado Social à suposta capacidade fiscal do país. Sucede, porém, que desde então se preparou um programa de cortes na função pública, nas pensões e nas despesas sociais, que atingirá os 4 mil e setecentos milhões de euros até ao final de 2014. Mas, então, e a descida de impostos? Pois, quanto a isso, esperem sentados: Passos Coelho assegurou que o governo está a trabalhar para aliviar IRS até 2015, mas não se compromete com a sua efectiva descida (ao contrário do IRC, claro).
A ofensiva austeritária tem sido protegida por um conjunto de cortinas de fumo, ardilosamente tecidas, que não só dificultam uma percepção clara e generalizada das evidências do seu fracasso como impedem uma discussão séria, aberta e democrática das alternativas para sair da crise.