Há uma semana escrevi, a propósito do “regresso aos mercados”, o seguinte: dada a recapitalização da banca portuguesa e o bom negócio que tem sido a compra de dívida pública, “é portanto provável que seja a banca portuguesa a ficar com o grosso da emissão agora anunciada”. Estava errado. O Governo, ao contrário do que é normal, prontificou informação sobre a composição dos agentes financeiros compradores desta emissão, vincando a procura estrangeira.
O regresso aos mercados não assinala o fim da intervenção da troika em Portugal?Confuso? Não é para menos. É nesta confusão que o Governo joga as suas fichas. Portugal prepara-se para regressar ao financiamento dos mercados através de uma emissão de obrigações a cinco anos. O Estado recapitalizou a banca nacional com o empréstimo da troika, com o compromisso, explícito no caso do Banif, de a banca comprar dívida pública portuguesa. É portanto provável que seja a banca portuguesa a ficar com o grosso da emissão agora anunciada.
Depois de atravessar uma forte recessão devido a sucessivos programas de austeridade impostos pelo FMI, a Argentina declarou a suspensão de pagamento da sua dívida pública no final de 2001, depois de reestruturações da dívida organizadas pelo FMI, que não conseguiram colocá-la numa trajectória sustentável. A esta suspensão do pagamento da dívida pública seguiu-se um processo negocial com os credores, com o estado argentino a oferecer uma troca de títulos de dívida com um corte de 65 por cento do seu valor nominal sobre metade da sua dívida pública. O resto da história é hoje razoavelmente bem conhecido. Graças à desvalorização do peso e à libertação dos recursos que serviam a dívida, a economia argentina viveu um período de forte expansão e progresso social.
Contrariamente ao que aconteceu em todas as cimeiras europeias dos dois últimos anos, a última reunião do Eurogrupo não foi anunciada como uma cimeira que “salvou” a Zona Euro. Este encontro foi até marcado pelo cepticismo geral em relação ao plano de reestruturação da dívida grega organizado pela União Europeia. Não é difícil perceber porquê.